quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Análise de entrevistas quanto as variantes linguísticas

A escola tem o dever de conduzir os educandos para a aquisição do conhecimento em suas mais diversificadas modalidades, sendo de suma importância a função da disciplina Língua Portuguesa, a qual corresponde o papel de orientação ao uso correto da língua; porém, a sua norma-padrão de acordo a gramática tradicional, vem causando certa polêmica entre diversificados grupos, com respeito aos aspectos sociais da linguagem.

Existe uma dicotomia entre a norma-padrão e a realidade cotidiana dos falantes; a sociedade exige o domínio da língua em diversas situações e atribui valor social aqueles que possuem eloqüência respaldada na norma-padrão, percebe-se, porém, que as duas modalidades lingüísticas têm o mesmo valor de verdade, pois observa-se que a língua não é estática, está sempre se atualizando, se adaptando a realidade temporal, espacial e cultural dos indivíduos.

Para analisar o processo de variação lingüística, os educandos do 1º semestre do curso de Psicologia Noturno, da Faculdade Castro Alves, gravaram três entrevistas com pessoas de faixa etária (12, 23 e 60 anos) e escolaridade, diferentes (ensino fundamental II, médio e PHD), utilizando-se de um questionário (oito questões formuladas em sala de aula), atividade esta, solicitada pela professora da disciplina Língua Portuguesa, Bianca Ribeiro, e que integra o quadro de Atividades Programadas Orientadas.

Transcreveremos tais entrevistas, bem como, procederemos a suas análises relacionando-as às variantes lingüísticas.

1ª entrevista

Duração: 3 minutos
Data: 10/11/2009
Informante: Caio César
Faixa Etária: 12 anos
Naturalidade: Salvador
Escolaridade: Ensino fundamental II
Residência: Vilas do Atlântico
Profissão: Estudante
Estado civil: Solteiro
Religião: Não possui
Tema: Variação Lingüística.

1. Qual o meio de comunicação você usa para se atualizar e obter informações do dia a dia?

Bem, geralmente uso o computador ou televisão, mas também, eu gosto de usar revista.

2. Você é religioso? O que essa instituição promove a você e a comunidade?

Na verdade eu não sou religioso, não tenho a menor idéia do que promove.

3. Em qual ambiente de convívio e atuação você se sente melhor?

Bem, na sala de aula, principalmente se tiver alguém da minha família por lá.

4. Qual o seu papel dentro da instituição familiar?

Bem, eu sou aluno, tento ajudar educar meu irmão de nove anos, que se pudesse botava a casa de ponta cabeça, literalmente.

5. Os órgãos públicos de sua cidade satisfazem suas necessidades básicas?

Me satisfazem, mas a maioria da população... no meu bairro sim, mas na maioria da população de outros bairros não, pelo que passa na tevê.

6. Se você fosse líder em alguma organização, o que você transformaria em prol da sociedade?

Bem, tem várias coisas... eu faria obrigatório jogar lixo na lixeira reciclável, aumentaria o policiamento nas ruas, aumentaria o esgotamento, hum, também ajudaria a preservar a mata atlântica com doações, etc.

7. A sua escola fornece curso de capacitação e/ou entretenimento para os alunos?

Hum, é... bem, dependendo do que é entretenimento porque pra mim entretenimento é estudar, mas a maioria das pessoas não acha.

8. Você já sofreu algum tipo de preconceito dentro da escola em que você estuda? Se sofreu, qual foi a sua reação?

Na ver... já, mas só que não foi nessa escola foi na... como é que se chama? Eu não lembro o nome da escola agora, mas me chamaram de berinjela pela cor da minha pele, porque berinjela tem a casca escura. Eu falei com a professora responsável por eles no momento, ué.

2ª entrevista:

Duração: 3 minutos
Data: 10/11/2009
Informante: Aline
Faixa Etária: 23 anos
Naturalidade: Salvador
Escolaridade: Ensino Médio
Residência: São Rafael
Profissão: Secretária
Estado civil: Solteira
Religião: Testemunha de Jeová
Tema: Variantes lingüísticos.

1. Qual o meio de comunicação você usa para se atualizar e obter informações do dia a dia?

Olha, nós costumamos usar muito lá em casa, tevê e rádio, mas como ultimamente, não é? a tevê se danificou nós estamos usando mais o radio.

2. Você é religiosa? O que essa instituição promove a você e a comunidade?

Sou sim, sou Testemunha de Jeová e a organização de Jeová, não é? ela promove muitos benefícios um desses é tornar, não é? Com que todos venham a conhecê-lo como Deus e soberano do universo além de outros benefícios também, né? Pra que as pessoas no caso venham a conhecê-lo e a fazer a sua vontade.

3. Em qual ambiente de convívio e atuação você se sente melhor?

Olha, eu vou classificar como em termos familiar mesmo, familiar e entre os amigos.

4. Qual o seu papel dentro da instituição familiar?

Bem... Eu sou filha, não é?

5. Os órgãos públicos de sua cidade satisfazem suas necessidades básicas?

Olha, a gente nunca realmente está satisfeito plenamente não é? Porque sempre tá precisando alguma coisa de melhorar né? Em termos de saneamento não é? Ruas que precisam ser asfaltadas, consertadas, não é? Transporte e assim por diante então em termos humanos mesmo eu não deposito cem por cento a minha confiança, não.

6. Se você fosse líder em alguma organização, o que você transformaria em prol da sociedade?

A informante não respondeu a esta questão.

7. A sua empresa fornece curso de capacitação e/ou entretenimento para os funcionários?

Olha, pode até fornecer, mas na área mesmo em que eu estou, pra mim não.

8. Você já sofreu algum tipo de preconceito dentro da instituição em que você trabalha? Se sofreu, qual foi a sua reação?

Não, não, nunca sofri não.

3ª entrevista:

Duração: 3 minutos
Data: 10/11/2009
Informante: Idalino Almeida
Faixa Etária: 60 anos
Naturalidade: Salvador
Escolaridade: PHD.
Residência: Pituba
Profissão: Psicanalista
Estado civil: Casado
Religião: Não possui
Tema: Variação Lingüística.

1. Qual o meio de comunicação você usa para se atualizar e obter informações do dia a dia?

Bom, eu uso a internet, né? É o meio mais fácil, porque a internet? A internet tem vários canais, tem vários sites de notícias, então isso me poupa tempo e me dá um resultado mais sintetizado.

2. Você é religioso? O que essa instituição promove a você e a comunidade?

Bem, eu não tenho religião, não sou religioso, tenho formação religiosa, mas eu não pertenço a nenhuma organização, muito ao contrário, essa formação religiosa, me fez fazer uma síntese e fazer com que eu tivesse hoje uma mente religiosa...

3. Em qual ambiente de convívio e atuação você se sente melhor?

Eu me sinto bem em qualquer ambiente, desde que... é não me deixar corromper, então me sinto bem em qualquer um, nada me fascina, nada me, é... me... porque se me fascinar, logicamente, o elemento muda de acordo ao seu fascínio, portanto, eu me sinto melhor em qualquer ambiente...

4. Qual o seu papel dentro da instituição familiar?

O meu papel dentro da instituição familiar é ser um provedor, um educador, uma pessoa que orienta, dirige e cuida.

5. Os órgãos públicos de sua cidade satisfazem suas necessidades básicas?

Eu não acredito, agora, vejam bem, é impossível se agradar a todo mundo, por exemplo, não só da minha cidade, os órgãos públicos de forma geral, eles não conseguem atender, a demanda é muito grande, a política é muito grande, os trâmites são horríveis, isso até certo ponto dificulta a atuação de qualquer administrador público.

6. Se você fosse líder em alguma organização, o que você transformaria em prol da sociedade?

Se eu fosse líder, eu diria pra você o seguinte, talvez eu tivesse as mesmas dificuldades que qualquer um outro líder teria, porque a gente nunca consegue agradar a todo mundo, que cada um tem uma forma de pensar e agir conforme os seus ditames internos, eu diria pra você o seguinte, eu estaria me comportando da melhor forma possível, tentando atender ao grupo que realmente acreditasse no meu trabalho ou esperasse de mim alguma coisa em que eu pudesse junto com todos eles reunidos, decidir a necessidade de cada um, fazer uma síntese e tentar atender essa demanda.

7. A sua empresa fornece curso de capacitação e/ou entretenimento para os funcionários?

Não se aplica ao informante.

8. Você já sofreu algum tipo de preconceito dentro da instituição em que você trabalha? Se sofreu, qual foi a sua reação?

Eu diria pra você o seguinte, todo mundo sofre, eu já passei por algumas dificuldades, mas, veja bem, entendendo o ser humano como ele é, temos que também compreender a necessidade de cada um de se auto-afirmar, logicamente, se o elemento discorda das minhas idéias, é porque na realidade ele tá precisando se auto-afirmar com as idéias dele e isso é uma coisa natural, é usar a compreensão.

Análise das entrevistas com relação à construção da linguagem e processo de variação lingüística:

As entrevistas foram realizadas com indivíduos que tiveram acesso a aquisição do conhecimento e estudo da norma-padrão da língua portuguesa, sendo assim, seus discursos atingiram um nível satisfatório de concordância verbal, embora, possa-se observar que a língua escrita, dentro dos moldes cultos, se diferencia da língua falada.

“Bem, geralmente...”, “Bem, na sala de aula...”, “Bem, tem várias coisas...”, “Hum, é... bem, dependendo...”, “Eu falei com a professora responsável por eles no momento, ué.”, (transcrição da fala de Caio, 13 anos).

No segundo momento da entrevista, observamos que a informante Aline, 23 anos, tem um forte sotaque interiorano, influência dos familiares que moram no interior da Bahia, inclusive percebe-se traços lingüísticos que justificam tal afirmativa.
“Olha, nós costumamos usar muito lá em casa, tevê e rádio, mas como ultimamente, não é?...”, “Sou sim, sou Testemunha de Jeová e a organização de Jeová, não é? ela promove muitos benefícios um desses é tornar, não é? Com que todos venham a conhecê-lo como Deus e soberano do universo além de outros benefícios também, né?”, “Bem... Eu sou filha, não é?”, “Olha, a gente nunca realmente está satisfeito plenamente não é? Porque sempre tá precisando alguma coisa de melhorar né?”, “Olha, pode até fornecer, mas na área mesmo em que eu estou, pra mim não.”

Na terceira entrevista, realizada com o Drº. Idalino Almeida, 60 anos, observam-se singularidades que comprovam que a língua padrão se diferencia da língua falada.

“Bom, eu uso a internet, né?”, “Se eu fosse líder, eu diria pra você o seguinte, talvez eu tivesse as mesmas dificuldades que qualquer um outro líder teria, porque a gente nunca consegue agradar a todo mundo, que cada um tem uma forma de pensar e agir...”, “é porque na realidade ele tá precisando se auto-afirmar...”.

Nota-se também que os fatores sócio culturais e etários influenciam marcantemente o processo de construção da linguagem, bem como, a eloqüência daqueles que utilizam a língua formalmente.

“Eu não acredito, agora, vejam bem, é impossível se agradar a todo mundo, por exemplo, não só da minha cidade, os órgãos públicos de forma geral, eles não conseguem atender, a demanda é muito grande, a política é muito grande, os trâmites são horríveis, isso até certo ponto dificulta a atuação de qualquer administrador público”.

Concluímos que a língua portuguesa possui variantes lingüísticos gerados por uma série de fatores, tais como, grau de escolaridade, faixa etária, região do Brasil a que pertença o cidadão, modismos lingüísticos, estrangeirismos, dentre outros, sendo relevante uma reflexão teórica a fim de se repensar no conceito da norma-padrão no âmbito sociolingüístico.

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